O alargamento da rede Andante a todos os transportes públicos urbanos do município de Matosinhos constituiu uma grande vitória das populações, que viram ampliadas as opções de mobilidade, a custos significativamente mais acessíveis, não mais necessitando de multiplicar a aquisição de títulos de transportes, ou passes, de diferentes operadores, para satisfazer as suas necessidades de mobilidade. Matosinhos foi o primeiro Município da Área Metropolitana do Porto a concluir este processo e fê-lo com a consciência do seu significado nos orçamentos familiares, permanentemente a braços com o peso das despesas de transporte, das mais altas ao fim do mês. 

 

A mobilidade é, aliás, uma das dimensões marcantes das relações entre as diferentes economias metropolitanas. No caso de Matosinhos, sobretudo, com os seus vizinhos do Grande Porto, reflecte uma dinâmica que, apesar da proximidade territorial, não raras vezes exige que, todos os dias, milhares de pessoas tenham de recorrer a diferentes meios de transporte de operadores públicos e privados para chegar ao seu destino laboral ou de estudo. Segundo dados do INE (disponíveis através dos últimos censos), com cerca de 175 mil habitantes, Matosinhos gera diariamente 100 mil viagens pendulares, das quais 60% são intramunicipais e 37% são intermunicipais. Destas viagens casa-trabalho e casa-estudo, 63% são feitas em transporte individual e 20% são feitas em transporte público (das quais 13% rodoviário e 7% ferroviário). Saem de Matosinhos, quotidianamente, para trabalhar ou estudar, cerca de 40 mil pessoas, e entram 34 mil. Quase 60% dos movimentos pendulares de saída dos residentes de Matosinhos tem como destino o Porto. Os residentes da Maia são responsáveis por 25% das entradas pendulares em Matosinhos e são o segundo maior destino da população de Matosinhos, com 17% dos movimentos. Com peso relevante nas entradas no município destaca-se ainda Vila Nova de Gaia, com 14%, e Gondomar, com 13%. 

 

Aparte das considerações sobre o papel determinante que os poderes e operadores públicos deveriam ter no estabelecimento de uma rede de opções de mobilidade que satisfizesse as necessidades das comunidades na Área Metropolitana do Porto, optimizando recursos, potenciando complementaridades, acabando com duplicações desnecessárias, concorrências desleais, horários de serviço desfasados das realidades laborais e frequências incompatíveis com a velocidade da vida de todos os dias, a realidade é que o Andante se tornou um instrumento que pode estimular determinantemente o uso do transporte público, sobretudo a partir da diminuição significativa dos custos de acesso.

 

Em Matosinhos, essa foi a estratégia seguida nestes dois anos e importantes avanços aconteceram – foram corrigidas linhas, passando a levar o transporte público a comunidades que estavam privadas dele há mais de 15 anos, como a Fonte dos Alhos e Leonardo Coimbra, em São Mamede de Infesta, ou a parte da comunidade de Gatões situada em Custóias; foram geradas novas ligações intermodais, como a ligação do norte do município ao Metro de Pedras Rubras; foram criadas linhas ligando freguesias, como Santa Cruz do Bispo, a serviços públicos fundamentais, como o Hospital de Pedro Hispano. E foram integradas todas as linhas no sistema Andante. 

 

Muito há por fazer, muita estrada para andar e muitos problemas para resolver, sobretudo, relacionado com frequências insuficientes e com a má qualidade dos veículos que circulam, heranças de décadas de uma política de transportes que primou pela desarticulação das operações públicas e abriu espaço à proliferação de serviço de transportes prestados por privados em condições muito deficitárias, situação que muito contribuiu para que o transporte individual ganhasse a predominância que hoje tem. 

 

Reverter esta tendência em favor do transporte público é uma batalha actual e urgente, inserida numa luta mais ampla pela sustentabilidade económica e ambiental das nossas comunidades, pelo desenvolvimento equilibrado do nosso território e pela melhoria da qualidade de vida das populações, com a democratização de soluções de mobilidade eficientes e compatíveis com as necessidades dos nossos tempos, e de todos os dias.

 

 

José Pedro Rodrigues

(vereador na Câmara Municipal de Matosinhos)